O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou, em decisão proferida na tarde desta quinta-feira, o afastamento de Ednaldo Rodrigues da Presidência da Confederação Brasileira de Futebol. O processo que culminou na decisão foi protocolado por Fernando Sarney, filho do ex-presidente da República José Sarney e atual vice-presidente da CBF, que aponta que uma das assinaturas num acordo que oficializou a eleição de Ednaldo, assinado em janeiro deste ano, pode ter sido falsificada. A assinatura em questão é de Antônio Carlos Nunes de Lima, ou Coronel Nunes, ex-presidente da entidade que enfrenta graves problemas de saúde desde 2023.
Esse acordo havia sido firmado para encerrar os questionamentos judiciais acerca da eleição de Ednaldo em 2022. O médico que cuida do Coronel Nunes, e que faz parte da comissão médica da CBF, afirmou em 2023 que o dirigente apresentava déficit cognitivo, o que fez levantar suspeitas sobre a legitimidade de sua assinatura. Uma perícia havia sido feita no documento, comprovando que a assinatura foi falsificada. A CBF negou qualquer falsificação. O Coronel Nunes iria depor à Justiça do Rio de Janeiro nesta segunda-feira, mas não compareceu justamente pelo seu delicado estado de saúde: ele segue internado em um hospital de São Paulo.
Ednaldo está no Paraguai, em um encontro realizado pela FIFA.
Coube, então, ao desembargador Gabriel Zafiro determinar:
"1- o afastamento da atual diretoria da CBF;
2- que o Vice-Presidente da CBF, Fernando José Sarney, realize a eleição para os cargos diretivos da CBF, na qualidade de interventor, o mais rápido possível, obedecendo-se os prazos estatutários, ficando a seu cargo, até a posse da diretoria eleita, os poderes inerentes à administração da instituição, dispostos no art.7º do Estatuto da Entidade".
Ainda segundo Zefiro em sua decisão, "a robustez dos indícios trazidos aos autos leva à inarredável conclusão acerca de um fato, até mesmo óbvio: há muito o Coronel Nunes não tem condições de expressar de forma consciente sua vontade. Seus atos são guiados. Não emanam da sua vontade livre e consciente".
Ednaldo Rodrigues Gomes tem 71 anos, é baiano de Vitória da Conquista e assumiu a presidência da CBF logo após o afastamento de Rogério Caboclo, em 2021. Contador de formação, foi também presidente da Federação Baiana de Futebol entre 2001 e 2018, além de ter sido vice-presidente da própria CBF entre 2018 e 2021.
Sua gestão da entidade máxima do futebol é marcada por diversos questionamentos, tanto do desempenho da Seleção Masculina (abaixo do esperado na última Copa do Mundo, que ficou fora das Olimpíadas de Paris e com chances de ficar fora da zona de classificação das Eliminatórias para a Copa de 2026) quanto extracampo (com denúncias de tentativas de censura e processos movidos contra jornalistas que criticam sua gestão, proximidade suspeita com integrantes do atual governo e até negócios com uma empresa que tem como sócio fundador o ministro Gilmar Mendes, do STF). Aliás, é graças ao Gilmar que o tal acordo hoje questionado foi homologado no STF, reconduzindo Ednaldo ao comando da CBF.
No mês passado, a revista Piauí publicou a reportagem As extravagâncias sem fim da CBF, reiterando acusações já trazidas contra Ednaldo e trazendo fatos até então desconhecidos do público, como o gigantesco aumento de salário aos presidentes das federações estaduais: de R$ 50 mil para R$ 215 mil mensais.
Para tentar conter o estrago feito à sua imagem, Ednaldo tratou de se apressar em contratar e anunciar o italiano Carlo Ancelotti como novo técnico da Seleção Brasileira na segunda. Antes dele, haviam passado Dorival Júnior, Fernando Diniz, Ramon Menezes e Tite.
A decisão desta quinta-feira no TJRJ cabe recurso às instâncias superiores. Ednaldo Rodrigues já recorreu ao Supremo Tribunal Federal para buscar anular a decisão que o tirou da presidência da CBF. O pedido será analisado por ninguém menos que o Ministro Gilmar Mendes.
Já Fernando Sarney emitiu comunicado avisando que iniciará os procedimentos para novas eleições na entidade.