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Em tempos de bebê reborn, CPI do Tigrinho e influenciadores que deterioram ainda mais os cérebros dos já acéfalos seres humanos, esta Coluna de Opinião trará um texto escrito em 2020 e publicado em um livro de 2022 pelo jornalista William Lourenço que, mais ou menos, cantou a bola do que viria a acontecer no campo intelectual no Brasil e no mundo (Foto de Pixabay para Pexels) |
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AVISO AOS LEITORES: ao contrário de nossas reportagens, a Coluna de Opinião traz, como o próprio nome já diz, a opinião de quem a escreve sobre fatos concretizados, não representando necessariamente um posicionamento oficial do Podcast Cafezinho com William Lourenço, enquanto veículo de imprensa (emitido somente por meio de nossos Comunicados Oficiais e Editoriais).
Por William Lourenço
Que nós vivemos a crescente da estupidez humana, já não é novidade pra mais ninguém.
Seja por aquilo que produzimos, seja pelo que consumimos, as discussões que travamos... Tudo é de um nível tão baixo que quem antes era considerado alguém de inteligência mediana pode se gabar hoje por ser um super gênio. Sério, se essa nova geração é idiota, aguarde as próximas...
Dos tais memes de derretimento cerebral no TikTok (que a nossa primeira-dama de cérebro derretido foi se queixar diretamente ao dono, o presidente da China, visando lacrar e lascar ainda mais com a reputação do Brasil) aos influenciadores na CPI do Tigrinho lá no Senado (só faltou postar dancinha com os senadores que, se tivesse havido o convite, fariam por serem igualmente safados), as pessoas continuam se mantendo alheias aos reais problemas que as cercam. A água pode estar batendo no queixo, mas os olhos do indivíduo estão mais preocupados em ver o que é que a Angélica vai falar da ex-nora no Instagram ou qual será o próximo show "gratuito" na Praia de Copacabana (a gente sabe que o Eduardo Paes só tá gastando toda essa dinheirama que nem dele é pra abocanhar a cadeira de Governador do Rio no ano que vem, mas isso fica só entre nós: pelo menos, até que comece a dar bosta na auditoria dos pagamentos desses shows- e vai dar).
A polarização política instaurada no Brasil também é trabalho de décadas de adubação do "nós contra eles" que fez germinar estas duas ervas daninhas chamadas lulopetismo e bolsonarismo. Os idiotas que os apoiam deixaram eles fincarem suas raízes dentro dos três poderes da República, iniciando um lento (porém inevitável) desmoronamento da credibilidade e consequente inutilidade do Legislativo, Judiciário e Executivo. Patridiotas da extrema direita e bundeiros da extrema esquerda andam de mãos dadas às escondidas na missão de destruir a democracia brasileira, por mais que publicamente finjam inimizade e aversão.
E agora, inventaram a moda das mães e pais de bebê reborn. Como se já não fosse escroto se declarar mãe ou pai de cachorro ou de gato...
Uma pessoa que conheço desde meus tempos de faculdade, e que sigo lá no X, fez uma postagem interessante essa semana, em que diz resumidamente que "ou você se aliena e fica burro" igual os demais usuários daquela plataforma ou "cada dia aparece algo na internet pra tirar sua paz". Vendo isso, eu acabei me lembrando de um texto que havia escrito à mão em 2020 (quando a COVID estava começando a isolar o mundo) e que só publiquei em 2022, no livro Poesias de algumas noites de insônia (E outros textos soltos também). Tá, inclusive, à venda na Amazon.
Trarei aqui esse texto pelos seguintes motivos: pelo tempo em que foi escrito e publicado, pode ser para alguns uma profecia. Em concorrência sadia a meu amigo e sócio João Gabriel Silva, trarei uma Coluna de Opinião fora do campo jornalístico e dentro do campo filosófico (ou delirante). E, pelo texto ser meu, ter sido publicado por mim e já estar registrado na Biblioteca Nacional em meu nome, dificilmente serei processado por mim mesmo por violação do meu próprio direito autoral.
Dito isto, vamos ao texto:
"Antigamente, muitas pessoas tentavam ter acesso ao conhecimento das mais diversas
áreas, mas não conseguiam, devido à restrição tecnológica existente: boa parte do que se sabia
era repassado verbalmente de geração em geração, e caso um perdesse esse conteúdo por
esquecimento ou mesmo por egoísmo, esse conhecimento era retido e depois perdido. O
surgimento da impressão e, logo em seguida, dos livros permitiu uma maior durabilidade do
conhecimento e, assim, da documentação da mesma. No entanto, poucos continuavam a ter
acesso a estas informações: os mais ricos.
A Igreja, temendo que o povo contestasse sua
ideologia caso detivesse qualquer informação divergente daquilo que ela pregava como
verdadeira, também contribuiu para essa segregação intelectual durante séculos. Assuntos que
atiçavam o senso crítico do indivíduo acerca daquilo que o rodeava, como a Filosofia, nem de
longe eram difundidos para todos. E os poucos que se interessavam no assunto e se dispunham a
discutir eram perseguidos até que fossem calados de alguma forma. Mas a impressão, ao
contrário de antes, permitiu que o conhecimento adquirido e discutido ultrapassasse os limites
das vidas daqueles que um dia as escreveram, fazendo com que outras gerações a conhecessem,
aperfeiçoassem aquelas ideias, continuassem discutindo aquilo que os rodeava em seus tempos e
pondo quem adquirisse aquele conhecimento depois deles para refletir e produzir mais
intelectualmente.
Seja pela matemática, ciência ou afins, o conhecimento permitiu, de uma forma geral, que
o homem se desenvolvesse rapidamente em um tempo relativamente curto. A internet, vindo
agora ao nosso século, permitiu que qualquer pessoa tenha acesso a quase todo conhecimento
da área que desejar. No entanto, ainda existe uma limitação (nem todos têm acesso, devido
principalmente a aspectos econômicos construídos durante o desenvolvimento das sociedades,
que eu não vou me atrever a tentar explicar) e um ponto negativo (a quem tem acesso, tanto o
bom quanto o mau conhecimento pode ser adquirido, a depender do caráter e da intenção de
quem está procurando).
Percebo, porém, que tanto desenvolvimento tecnológico (possível por meio do avanço
intelectual humano que ainda está ocorrendo a cada dia) pode ser, num futuro não tão distante, o
que irá barrar e fazer-nos retroceder intelectualmente. Deixaremos de ter senso crítico próprio e
passaremos a nos conformar cada vez mais com os problemas e mazelas de nossa vida, ser mais
apoiadores de ideais suicidas no âmbito intelectual e definhar lentamente todos os códigos,
normas, leis e sistemas que regem toda a humanidade.
A televisão, por exemplo, foi criada com o
intuito de levar entretenimento ao cidadão em sua casa, bem como o rádio fora inicialmente. O
conteúdo da televisão, na contramão disso, trouxe muito de distração e quase nada de
conhecimento útil. As músicas difundidas pelo rádio, especialmente as mais tocadas no Brasil,
são cada vez mais pobres em novas melodias, os cantores são cada vez menos intérpretes, e as
letras cada vez mais apelativas aos amores destruídos por traições ou abandono e a corrida
agonizante às bebidas alcoólicas como se elas fossem fazer estes problemas desaparecerem.
Não que eu espere, no caso das músicas, uma letra que me explique o niilismo ou me inspire a ler
um texto do Freud (se bem que não sei como fazer uma música assim atraente de se ouvir); ou
no caso da televisão, uma novela que ponha quem assista para pensar sobre a dignidade do
homem ou o mal estar na civilização; mas será que a humanidade se tornou só isso? O cara que é
largado pela mulher e enche o toba de pinga nas canções do sertanejo universitário ou a mocinha
sofrida e enjoativamente sentimentalista da novela das nove?
Se tivermos chegado a este ponto
final, o melhor a fazer é fazer um backup de tudo aquilo que já aprendemos até aqui, documentar
essas informações de todas as formas que já aprendemos, trancar tudo em um baú, enterrar num
lugar isolado, deixar um mapa com a localização deste baú em um lugar aleatório e esperar que
alguém (isto já quando a humanidade como conhecemos estiver destroçada) encontre este mapa,
chegue ao local certo, cave o buraco, encontre o baú, abra-o, leia o que tem ali (se ainda existir
alguém que saiba ler) e dê o pontapé para o recomeço do desenvolvimento de todas as
potencialidades do ser humano".
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