Por William Lourenço
O ano de 2022, como você já deve estar cansado de ler e ouvir, é ano de eleição presidencial. E ainda enfrentamos algumas restrições por causa da pandemia de COVID-19.
O presidente Jair Bolsonaro, que há poucos dias estava hospitalizado por um problema intestinal, deu mais uma bola fora enquanto Chefe de Estado ao se posicionar novamente contra a vacina. Dessa vez, seu ataque desprovido de inteligência estava enrustido de discurso de proteção às crianças. Falou até que não iria vacinar a filha dele, de 11 anos, mas aí é problema dele.
Após uma consulta pública realizada pelo Ministério da Saúde, cheio de perguntas confusas e com a clara intenção de distorcer a opinião pública quanto à vacinação das crianças de 5 a 11 anos, e após uma imensa pressão de outros especialistas em saúde e o aval positivo de grandes agências reguladoras de saúde mundo afora, o órgão resolveu incluí-las na campanha de vacinação. Numa postura de recuo, não será mais exigido pelo Ministério da Saúde aquela famigerada e esdrúxula prescrição médica para receber o imunizante da Pfizer, já aprovado pela ANVISA para essa faixa etária.
A postura de Bolsonaro se torna cada dia mais esdrúxula, ridícula e vergonhosa pelo fato de que, mesmo estando errado, ele ainda insiste em se manter no caminho do precipício, e a levar milhares com ele, seja pelo seu discurso ou pelos seus atos. Para tentar justificar seu argumento raso, ele apela ao velho discurso do ataque à liberdade, mas eu não vi até agora uma pessoa que tenha sido vacinada que perdeu essa tal liberdade que ele diz estar sendo ameaçada. Todos nós sabemos que a liberdade de expressão, de opinião, do livre exercício da profissão, da imprensa e tantas outras são previstas na Constituição Federal, e que qualquer ação que busque impedir uma pessoa de exercer essas liberdades. Só que a mesma Constituição prevê deveres aos cidadãos, especialmente relacionados à saúde pública. O descumprimento desses deveres, ainda que se alegue essa panaquice da liberdade para o que lhe convém, pode ser considerado crime.
E, fuçando um pouco as leis brasileiras, você encontra tipificados como crimes no Código Penal:
Art. 267 - Causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos:
Pena - reclusão, de dez a quinze anos. (Redação dada pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)
§ 1º - Se do fato resulta morte, a pena é aplicada em dobro.
Art. 268 - Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se o agente é funcionário da saúde pública ou exerce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro.
Art. 280 - Fornecer substância medicinal em desacordo com receita médica:
Pena - detenção, de um a três anos, ou multa.
Modalidade culposa
Parágrafo único - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Art. 283 - Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
Art. 284 - Exercer o curandeirismo:
I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;
II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;
III - fazendo diagnósticos:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também sujeito à multa.
(Acesse aqui a íntegra do Código Penal Brasileiro)
Tão ridículo quanto o Presidente e suas bostas verbais (já que seu intestino não anda funcionando tão bem assim), são os seus puxa-sacos reverberando esse discurso vazio e burro nas redes sociais. É lamentável!
E digo isto porque ele, ao agir de forma tão babaca em relação à pandemia desde que ela começou, jogou no lixo uma grande oportunidade de ter, de fato, se tornado o maior presidente da história da República. Resolveu tentar agradar a boiada de seu cercadinho em vez de conduzir com hombridade a nação que o colocou no Planalto em 2018. E o que é pior: a maioria dessas bestas quadradas que se declaram anti-vacina hoje, provavelmente cresceram tomando vacina contra a polio, sarampo, tuberculose...
Por mais que tenha a variante Omicron contaminando a rodo, as mortes pela COVID diminuíram consideravelmente graças ao avanço, ainda que contra a vontade dele, da vacinação: 67% dos brasileiros já receberam as duas doses, incluindo este que vos escreve. Quem procurou se informar direito antes de sair falando besteira, sabia desde o começo que a vacina serve para proteger de casos graves e internações, que não têm 100% de eficácia (como nenhuma das vacinas têm, mas elas servem para seus devidos propósitos) e que, a depender das variantes desse vírus, novas doses podem ser aplicadas ou atualizações na fórmula dessas vacinas podem ser feitas, igual fazem com as vacinas contra a gripe. Efeitos colaterais acontecem em pouquíssimos casos, como em todas as vacinas e com qualquer medicamento. Mortes são eventos raríssimos em um universo tão amplo, repito, com qualquer vacina e tomando qualquer medicamento.
O povo está vendo que Bolsonaro está errado, e isso é um problema que se multiplica por três pra ele. Primeiro: porque a boiada de seu cercadinho está, aos poucos, diminuindo. Segundo: porque, por sua única e grande culpa, está cada vez mais difícil manter quem antes o defendia com unhas e dentes faltando nove meses para as eleições: aliados políticos, apoiadores e eleitores compreendem o buraco em que entraram e, aos poucos, vão saindo. Uns de forma mais discreta, outros fazendo barulho... Fora que sua saúde vem sendo outro fator desafiante. A facada na campanha de 2018, que o levou a Presidência, agora pode tirá-lo de vez da corrida à reeleição.
E por último: esse desgaste lento de Bolsonaro perante a maioria da população, a quem quiser encarar assim, fortalece aos poucos outros postulantes à Presidência, como o também famigerado Lula, o desbocado Ciro Gomes, o rouco Sérgio Moro, dentre outros. Pode até ser que Bolsonaro se firme como favorito no pleito em outubro, mas isso depende, e muito, do que ele vai fazer (e falar) até lá. E pelo que ele vem dizendo e fazendo, mais pessoas vão reconsiderar seu voto e depositá-lo em qualquer um, mas nele não.