OPINIÃO: UM TURISTA NA SUA PRÓPRIA CIDADE

 

Existem muitas pessoas que ainda não conhecem o Parque Nacional do Catimbau. Muitas que ainda não foram fazer uma visita e moram em Buíque, um dos três municípios do agreste pernambucano onde o parque é localizado. O sócio administrador do Podcast Cafezinho era uma dessas pessoas... até o último sábado, e nesta Coluna de Opinião, ele irá descrever como foi sua experiência (Foto: William Lourenço/ Podcast Cafezinho)

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AVISO AOS LEITORES: ao contrário de nossas reportagens, a Coluna de Opinião traz, como o próprio nome já diz, a opinião de quem a escreve sobre fatos concretizados, não representando necessariamente um posicionamento oficial do Podcast Cafezinho com William Lourenço, enquanto veículo de imprensa (emitido somente por meio de nossos Comunicados Oficiais e Editoriais).

Por William Lourenço

Todo aquele que mora ou morou em Buíque já ouviu, pelo menos uma vez em sua vida, sobre as belezas e maravilhas encontradas no Parque Nacional do Catimbau, cuja área é tão grande que pega os territórios de três municípios do agreste de Pernambuco: Buíque, Tupanatinga e Ibimirim. 
As montanhas, as trilhas, os sítios arqueológicos (são mais de 100), a fauna, a flora... Tudo isso é um atrativo e tanto para que cada vez mais pessoas, de todos os lugares do mundo, visitem este que já é considerado um dos maiores parques nacionais do Brasil. Contudo, ainda existem habitantes deste município que, por diversas razões, nunca foram até lá. Eu era uma dessas pessoas até o último sábado.
Saí de casa por volta das 4:45 da manhã. No caminho, passei na casa de um amigo no Distrito do Carneiro que também ia para o Catimbau. Nos dirigimos para Buíque e ficamos ali na Praça Major França, aguardando o ônibus que nos levaria até o parque. A previsão era que chegasse às 7. Atrasou um pouco: saímos às 8:30, mas nada que viesse a atrapalhar a experiência.
Já na entrada da estrada que dá acesso ao Distrito do Catimbau, a minha primeira surpresa: a bendita pavimentação, que era promessa de campanha há décadas, enfim havia sido realizada. Eu lembro de uma vez, isso indo em direção a um comício em 2012, que ali era ainda uma estrada de terra e também era bem estreita. Nesse dia, a gente não só não chegou no distrito, como ficamos mais de 3 horas tentando voltar pra cidade por causa do congestionamento.
Mas voltando ao assunto do parque, ao desembarcar do ônibus no destino, os guias deram as devidas instruções de como deveríamos nos portar durante a visita enquanto funcionários do ICMBio também nos vigiavam. O ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) é um órgão federal vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, responsável por gerir e fiscalizar esta Unidade de Conservação Federal.
Dentre as instruções, estavam aquelas que, embora pareçam óbvias a pessoas civilizadas e com o mínimo de neurônios, incrivelmente costumam ser desobedecidas: não jogar lixo nas trilhas, não mexer nas plantas e animais dentro da área do parque e não sair por nenhum instante da trilha seguida pelos guias.
Pela extensão do parque (mais de 62 mil hectares), é praticamente impossível conhecê-lo por completo em um só dia, mas foi escolhida uma das 16 trilhas disponíveis para seguirmos: a Trilha do Chapadão. No trajeto, me chamou atenção como a areia do caminho brilhava com a luz do sol. Era possível ver alguns pequenos cristais.
A trilha escolhida pra mim e pros demais que haviam ido naquele horário tinha alguns locais em que qualquer desatento poderia facilmente escorregar e se machucar feio. As pedras eram aparentemente bem lisas, como se tivessem sido polidas. A areia bem fina por cima de algumas dessas pedras também servem como armadilha. Contudo, nenhum incidente nesse sentido foi registrado ali, mesmo tendo pessoas mais velhas no grupo.
Após muitos metros de subida, chegamos num lugar à beira de um desfiladeiro e pudemos contemplar mais a vista de outras montanhas e paredões de pedra que estão dentro do parque. A ventania era tão forte que seu som simulava a queda de uma cachoeira. Até pensei que ali houvesse de fato uma. Todos que queriam tirar algumas fotos do lugar precisaram redobrar o cuidado: pela força do vento, um celular poderia facilmente escapar da mão e cair lá embaixo.
Imagem do Sítio Arqueológico Homens sem Cabeça (Foto: William Lourenço/ Podcast Cafezinho)

A próxima parte da nossa visita foi uma passagem pelo Sítio Arqueológico Homens sem Cabeça. As pinturas rupestres encontradas em pedras como a da imagem acima são tratadas como sítios arqueológicos. Existem mais de 100 destes catalogados no Catimbau, colocando-o como o segundo maior em número de sítios arqueológicos do país: atrás apenas da Serra da Capivara, no Piauí, que tem cerca de mil. Pela altura em que as pinturas foram feitas e a distância que tivemos que manter, talvez seja difícil a alguns visualizar os desenhos, mas o próprio nome do sítio arqueológico já dá um spoiler do que se trata.
A pintura narra um confronto entre homens posicionados em diferentes distâncias. Acredita-se que, pela posição e distância de quem viu a cena e depois a pintou com óxido de ferro extraído das pedras, o pintor não tenha visto muito bem as cabeças dos lutadores e passado para o desenho a forma como ele viu. Daí os Homens sem Cabeça.
Ainda fizemos uma breve passagem pelo Ateliê de Luiz Benício, que faz diversas esculturas em madeira. Uma de um cara que parece ser um roqueiro, com quase três metros de altura, foi a que eu mais gostei de ver. Lanchamos ali e depois fomos embora. Cheguei em casa por volta das 3 da tarde. Até ia voltar ao Catimbau pra cerimônia de premiação do Concurso de Fotografia (havia me inscrito com duas fotos), mas cheguei tão exausto que apaguei e perdi a hora.
Mais do que as fotos tiradas e a confirmação daquilo que muitos me diziam a respeito do Parque Nacional do Catimbau, a ida até lá me tirou um peso na consciência que eu tinha desde que vim morar em Buíque, há exatos 20 anos: que era, justamente, o de nunca ter ido ao parque, mesmo morando relativamente perto. E fica aqui um conselho a quem mora em Buíque e ainda não foi: tire um dia da semana em que tenha mais tempo livre e dá uma passada no Catimbau. Principalmente se você for desses que gostam de caminhar ao ar livre e contemplar a natureza. Quando se fala em valorizar o que há aqui, não é exagero.

A minha ida no último sábado foi possível graças a uma iniciativa da Secretaria Municipal de Turismo, Cultura e Lazer de Buíque, dentro da Semana do Turismo. No turno em que eu fui, o da manhã, outras 100 pessoas haviam ido ao parque em dois ônibus. A entrada nesse dia foi gratuita, pois já havia sido combinado previamente com o ICMBio. Em dias normais de visitação, cobra-se uma taxa de entrada de R$ 10 por visitante. Os participantes desta visita apenas precisaram doar um quilo de alimento não perecível, que foi destinado ao Programa Mesa Brasil do Sesc. Outras cem pessoas fizeram o mesmo trajeto à tarde.
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