OPINIÃO: SER PREFEITO É PADECER NO PRÓPRIO PARAÍSO

 

Já se passaram quatro meses de mandato de Túlio Monteiro como chefe do Executivo de Buíque e, nesta Coluna de Opinião, buscaremos explicar o que houve de avanço em relação a seu antecessor no município do agreste pernambucano... e o que já tem de queixas, até mesmo de quem o apoia (Foto: Reprodução/ Redes Sociais)


AVISO AOS LEITORES: ao contrário de nossas reportagens, a Coluna de Opinião traz, como o próprio nome já diz, a opinião de quem a escreve sobre fatos concretizados, não representando necessariamente um posicionamento oficial do Podcast Cafezinho com William Lourenço, enquanto veículo de imprensa (emitido somente por meio de nossos Comunicados Oficiais e Editoriais).

Por William Lourenço

Neste 1º de maio, Dia do Trabalhador, também se completam quatro meses do mandato de Túlio Monteiro como Prefeito de Buíque, no agreste pernambucano. O município, do qual ele foi vice-prefeito entre 2021 e 2024, agora está sob o seu comando e as decisões mais importantes dependem de sua caneta.
Coincidência ou não pela data de hoje, a palavra que mais se ouviu sair da boca do então candidato e agora chefe do Executivo em sua campanha eleitoral foi trabalho. E realmente, para se administrar um município, dá trabalho. Porém, quando o município tem os problemas administrativos, financeiros, sociais, econômicos e estruturais que Buíque tem, aí dá muito mais trabalho deixar tudo em ordem. E vamos combinar que, nessa parte, seu antecessor Arquimedes Valença não foi nada amigo com ele.
Pra prosseguirmos com o texto, é importante explicar o porquê de seu título: a expressão "padecer no paraíso", muito utilizada popularmente para atribuir à maternidade, sugere que mesmo em uma situação aparentemente ideal e favorável, a pessoa enfrenta desafios, sofrimentos, dificuldades ou sacrifícios. O próprio paraíso do prefeito pode ser entendido como a situação favorável criada pelo próprio ou por aqueles que o bajulam. Explicação dada, vamos seguir.
Na campanha eleitoral propriamente dita, Túlio respondeu a duas Ações de Investigação Judicial Eleitoral. As duas foram julgadas improcedentes por falta de provas meses depois, o que não impediu sua diplomação e posse após conseguir vencer no pleito de 06 de outubro, mas já deu uma pressão inicial e um aviso de que aquilo seria só o começo. A vitória em cima de seu adversário com menos de 3 mil votos de diferença também foi outro sinal.
Já no cargo, como forma de prestar serviço às 16 mil pessoas que lhe confiaram seu voto, Túlio Monteiro se prontificou a retomar uma coisa que seu eleitorado mais sentia falta: as festas. O Carnaval teve uma estrutura elogiável. Logo mais, na Praça de Eventos, ocorrerá pela primeira vez a Festa do Trabalhador e, no dia 12, volta a Festa de Aniversário: eventos que, curiosamente, foram minguando ou simplesmente não eram realizados durante os mandatos de Arquimedes entre 2017 e 2024. Voltou o famigerado pão e circo que alguns tanto criticam? Não sei, mas é também aqui que termina o paraíso e começa o padecimento.
Até para não ser injusto, nenhum dos problemas apresentados no município até o momento (no aspecto administrativo da coisa) foi criado pelo atual prefeito. Ele meio que pegou o bonde descontrolado já andando, mas agora que se sentou na cadeira mais visada de Buíque, passa a ser obrigado a resolver e a, quem sabe, colocar o tal bonde nos trilhos e na velocidade certa. As dívidas dos precatórios, por exemplo, são um desses problemas. Eram 52 processos que obrigavam o município a pagar mais de R$ 1,5 milhão em dívidas trabalhistas a servidores municipais.
Você leu bem: eram, pois ao que o próprio portal de Consulta de Precatórios do Tribunal de Justiça de Pernambuco indica, mais um foi adicionado à lista de fevereiro pra cá. Precatório este que teve como origem uma exoneração, feita por Arquimedes, de um servidor aprovado no último concurso público de 2016. Esta exoneração foi considerada ilegal pela Justiça.
Depois, veio a surpresa com as instaurações de dois inquéritos: um pelo Ministério Público de Pernambuco, sobre supostas fraudes à licitação que haviam sido cometidas pela Prefeitura entre 2017 e 2022 em benefício de uma empresa fornecedora de combustíveis pertencente ao padrinho de Túlio (conforme consta na base de dados da Receita Federal); e o outro pela Polícia Federal por suposta compra de votos durante sua convenção partidária. Caberá à Justiça aceitar ambas as denúncias e prosseguir com os processos ou arquivar os casos.
Não bastasse isso, o Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco determinou que ele agilizasse os trâmites para a realização de um novo concurso público, após aplicar uma multa a Arquimedes por contratações temporárias consideradas ilegais.
Até a cor preferida de Túlio teve que ser trocada da identidade visual da Prefeitura após o Ministério Público de Pernambuco emitir uma recomendação (que, embora o nome não dê esse sentido, é mais uma determinação e ai de quem descumpri-la).
Ufa, foi bastante coisa. Enfim, um respiro... Não!
A primeira grande bucha de canhão do ano foi o projeto de lei que reestrutura o quebrado e quase falido Fundo de Previdência Social de Buíque. Com um rombo cada vez maior desde 2019, coube a Túlio se virar nos 30 pra tapá-lo. Óbvio que o modo adotado pelo Executivo para resolver este problema não foi bem visto pelos servidores, sobretudo os aposentados.
Sem concurso, com cada vez mais efetivos se aposentando e muitos contratados de forma temporária, o Tribunal de Contas do Estado teve que direcionar nominalmente a Túlio um alerta para que reduza os limites de despesas com pessoal de Buíque: coisa que seu "amigo" Arquimedes nunca se dispôs a fazer e pela qual o hoje prefeito passou a colher as consequências. E a cobrança do concurso público voltou a ecoar em seus ouvidos...
Ainda tem o fato de Buíque estar entre os municípios com piores Índices de Progresso Social de Pernambuco e até do Brasil...
E mais recentemente, até os vereadores passaram a demonstrar insatisfação com algumas posturas adotadas em seu mandato. Inclusive os de sua base...
Na sessão de ontem da Câmara, o secretário municipal de Agricultura e Abastecimento, Aldy Régis, havia sido chamado para prestar esclarecimentos, a princípio, sobre a distribuição de água dos caminhões-pipa. Contudo, ele não foi à sessão nem explicou o porquê da ausência, deixando alguns parlamentares irritados (muito mais por terem tomado um chá de cadeira na presença do deputado estadual Romero Sales Filho). Também foram proferidas diversas reclamações ao fato de que os requerimentos enviados pelo Legislativo ao prefeito não são atendidos e sequer são respondidos.
E sabe o trator que aparece na imagem acima? Mais cedo, naquele mesmo dia, equipes da Prefeitura e da Guarda Civil Municipal apareceram em um terreno no Sítio Cigano e derrubaram algumas cercas numa ação que visa desapropriá-lo. O terreno pertence ao município, mas os dois prefeitos que antecederam Túlio Monteiro fizeram vista grossa quanto às pessoas que o ocuparam. Há famílias com 15, 20, até 25 anos de ocupação. Os vídeos que circulam nas redes sociais dão a entender que a derrubada das cercas com o maquinário (primeira parte da desocupação) foi realizada sem aviso prévio ou qualquer decisão de reintegração de posse comunicada aos moradores da localidade. O assunto também foi comentado na sessão da Câmara.
Ah, a Câmara de Vereadores... Dali poderá sair para Túlio a próxima e, talvez, mais pesada bucha de canhão do seu mandato: as duas Ações de Investigação Judicial Eleitoral em tramitação na Justiça Eleitoral de Buíque que podem, se julgadas procedentes, remover seis vereadores eleitos de uma vez. Cinco deles somente do MDB, seu partido, incluindo a atual Presidente da casa. 
Numa eventual recontagem de votos após as cassações dos mandatos, as cadeiras ociosas seriam distribuídas entre o PSDB, PSB, Republicanos e Progressistas (que, com a fusão com o União Brasil, passará a se chamar União Progressista). O Republicanos é o partido ao qual está filiado Jobson Camelo, que foi adversário de Túlio na eleição para prefeito do ano passado. O Progressistas foi o partido do vice de Jobson em sua chapa e o PSB pertenceu à coligação União pela Mudança, da qual Jobson fez parte. Ou seja: quase que de repente, a Câmara, que atualmente tem maioria da situação, passaria a ter maioria da oposição ao governo. Porém, nem tudo estaria descontrolado ou perdido no comando da casa, pois Cidinho de Cícero Salviano (PSDB) sairia da atual Vice-Presidência pra se tornar Presidente da Câmara com a cadeira de Aline de André de Toinho desocupada. Pode até ser que isso não ocorra, mas o simples fato de haver a possibilidade já é suficiente para deixar o prefeito um pouco intranquilo.
E até quando, de fato, a circunstância não é do controle do gestor, sobra pra ele, ainda que por meras 24 horas: o atraso no pagamento dos servidores comissionados (incluindo os secretários municipais) por causa de uma falha no sistema do banco. A própria Prefeitura confirmou o fato e informou, em nota, que o problema será resolvido até esta sexta-feira. Enfim...
O lema adotado por Túlio Monteiro antes, durante e após a campanha eleitoral foi o do trabalho. Só acho que ele não contava com o fato de que, já prefeito de Buíque, fosse ter tanto. E só se passaram quatro meses...
Feliz Dia do Trabalhador a todos.
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