Seguidores do escritor e ensaísta brasileiro, que morreu na última segunda-feira, têm feito campanha na internet para que ele seja canonizado pela Igreja Católica (Reprodução/ Internet) |
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Por William Lourenço
O movimento bolsonarista sofreu uma dura perda na última segunda-feira, dia 24 de janeiro, com a confirmação da morte do escritor Olavo de Carvalho. Ele tinha 74 anos e, segundo o médico que o acompanhou, morreu de insuficiência respiratória. Oito dias antes, ele havia sido diagnosticado com a COVID-19, doença que, por diversas vezes, debochou e minimizou. Porém não é dessa infeliz coincidência que falarei nesta Coluna de Opinião.
Sua morte, repito, foi sentida entre os apoiadores do atual presidente Jair Bolsonaro, pois foi-se embora aquele que era considerado um "guru": as orientações sobre ser contra uso de máscara, distanciamento social e vacinação foram todas dele, sendo replicadas pelos que hoje são chamados de negacionistas. Ainda que, em suas últimas semanas, ele tenha comprado briga com os bolsonaristas no Twitter ao criticar posturas daquele que ajudou a eleger para o Palácio do Planalto em 2018. O próprio Jair, aliás, enfrentou outra perda nesses dias: a de sua mãe. O governo federal decretou luto de um dia pelo falecimento do "guru".
Controverso e polêmico, chegou a ser processado pelo cantor Caetano Veloso. Casou-se três vezes, teve oito filhos e um relacionamento conturbado com um deles: a primogênita Heloísa, com quem não falava há cinco anos.
Agora, os apoiadores do trabalho de Olavo de Carvalho estão fazendo uma incessante e massiva campanha nas redes sociais para que a Igreja Católica canonize o escritor. Ou seja, querem torná-lo um santo!
Para que alguém seja de fato canonizado, precisa primeiro ser beatificado. A vida dessa pessoa é investigada para verificar seu testemunho de santidade. O candidato inicialmente é considerado um Servo de Deus. As virtudes ou o martírio (circunstâncias da morte) desta pessoa são avaliadas. Tendo um parecer positivo, ela é declarada Venerável. Qualquer Diocese pode abrir um processo de beatificação.
Para se tornar de fato beatificado, é preciso comprovar um milagre ocorrido por sua intercessão. Depois disso, a Santa Sé avalia se essa pessoa pode ser canonizada.
Minha avó dizia que "depois da morte, todo mundo vira santo". Embora fosse uma ironia, não deixa de ter fundamento: dados todos os absurdos ditos, feitos e escritos por este cidadão em vida, principalmente sobre a pandemia, bastou morrer para que viesse um grupo tentar limpar sua barra. Agora só acho que levaram o que minha avó disse muito a sério, porque nem todo mundo pode virar santo. E levando em conta o que é publico sobre a vida do Olavo, os bolsonaristas darão sorte se o padre deixar colocarem seu processo de beatificação em cima de sua mesa.
Irônico também são os mesmos que dizem que "digno de adoração é só Jesus", que falsamente defendem o que está escrito na Bíblia, se ofenderem quando confrontados com suas hipocrisias de adoração e idolatria a homens tão cheios de pecado como Jair Bolsonaro e, o agora falecido, Olavo de Carvalho.