OPINIÃO: PONTES DO EU AO OUTRO

Conectar-se a outra pessoa pode ser mais difícil do que parece, ainda mais quando esta pessoa é praticamente seu oposto. Como, então, construir uma ponte e se aproximar? É sobre isso que esta Coluna de Opinião dissertará (Foto de julie aagaard para Pexels)



AVISO AOS LEITORES: ao contrário de nossas reportagens, a Coluna de Opinião traz, como o próprio nome já diz, a opinião de quem a escreve sobre fatos concretizados, não representando necessariamente um posicionamento oficial do Podcast Cafezinho com William Lourenço, enquanto veículo de imprensa (emitido somente por meio de nossos Comunicados Oficiais e Editoriais).

Por João Gabriel Silva

Entender o outro é uma experiência profundamente enriquecedora. 
Ao nos abrir para o diferente, ampliamos nossos horizontes e descobrimos novos significados para a existência. Luc Ferry nos lembra que o propósito da vida não está apenas na busca da felicidade individual, mas, sobretudo, na capacidade de estabelecer vínculos autênticos, de enxergar o mundo pelos olhos do próximo e de permitir-se transformar pelo amor. 
A plenitude, segundo Ferry, nasce não do isolamento, mas do mergulho nas relações humanas. Conhecer o outro é superar medos, encontrar serenidade e dar sentido à própria vida por meio da escuta e do reconhecimento mútuo. Para isso, é preciso romper a redoma narcísica em que tantos se refugiam e exercitar a presença aquela que escuta de verdade, com curiosidade e ternura. A psicologia também entende o encontro como um gesto de cuidado. 
É nesse espaço que somos vistos e acolhidos. Lembro-me de dizer a alguém, certa vez, que achava fascinante conhecê-la. Ela se surpreendeu talvez por não entender que compreender o outro não é simples passagem, mas travessia. É encontrar serenidade no abraço do amor, nas pontes que construímos entre dores, desejos e horizontes partilhados. 
Lacan diria que o Outro é espelho e enigma: revela o que não vemos em nós e convida ao mergulho no desconhecido do próprio ser. Amar e compreender é atravessar os medos, tocar a vulnerabilidade e reconhecer a beleza no espanto do encontro. 
Na modernidade líquida, essa curiosidade pelo outro parece rarear. Vivemos cercados de aparências, esquecendo que conhecer alguém é também viver poesia sentir o mundo pulsar nas diferenças e descobrir que todo verdadeiro entendimento nasce dessa dança delicada entre o que somos, o que ignoramos e o que ainda podemos ser juntos.
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