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| Novamente, resolvemos trazer um texto para entreter e refletir acerca do íntimo do ser humano, saindo do padrão noticioso das tradicionais Colunas de Opinião deste site (Foto de Aidan Roof para Pexels) |
AVISO AOS LEITORES: ao contrário de nossas reportagens, a Coluna de Opinião traz, como o próprio nome já diz, a opinião de quem a escreve sobre fatos concretizados, não representando necessariamente um posicionamento oficial do Podcast Cafezinho com William Lourenço, enquanto veículo de imprensa (emitido somente por meio de nossos Comunicados Oficiais e Editoriais).
Por João Gabriel Silva
Carrego o leve como quem arrasta um mundo.
Ser leve demais é não deixar vestígio e passar pelos outros sem saber se existi.
Almejo o milagre da ligação,
um fio que una dois silêncios,
um gesto que não se desfaça no ar.
Mas o outro é sempre um espelho trincado:
revela e distorce.
Aproximo-me e já me perco.
Há uma dor calma em não caber.
Nem todo encontro é abrigo,
nem toda alma aceita visita.
A vida é essa dança entre o toque e o abismo,
entre o querer ficar e o saber partir.
E mesmo assim
insisto, mesmo sem saber.
Insisto na insustentável leveza de ser.
Ser verdadeiro.
Porque há beleza em tentar o impossível,
em acenar para o que não volta,
em sentir que o breve também é verdadeiro.
Mesmo que não demore.
Algo importante fica.
Nem sempre compreendemos, mas vivemos.
Aspiro conexão: essa palavra que arde e acalma.
Almejo o instante em que dois olhares
se reconhecem sem que nada precise ser dito.
Mas o mundo é feito de desencontros.
Rostos que se cruzam,
Almas que se encostam e se seguem.
Cada um carregando um pedaço do que poderia ter sido.
É difícil admitir que não se pode se fundir com todos.
Todo toque é sempre parcial.
Há sempre uma fronteira no sentir.
Há uma beleza em se perder nas tentativas.
A leveza de existir é: tentar ser leve sem desaparecer.
